sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Congados: manifestação de fé do povo simples de Minas Gerais

Congado
No primeiro fim de semana de Novembro Resende Costa para completamente para celebrar uma de suas devoções mais populares: Nossa Senhora do Rosário. E quando pensamos nesta festa que tanto encanta quem dela participa, é impossível que não nos lembremos dos Congados. Mas o que são e como surgiram estas bandas?

Como bem sabemos, no período em que o Brasil era colônia de Portugal, muitos negros foram capturados na África para serem escravizados aqui na América. Ganhavam o famoso “PPP”: Pano para servirem como vestimentas, Pão para não morrerem de fome e Pau nas costas, de tanto que apanhavam dos patrões.

Conta a tradição mineira que certa vez os portugueses capturaram o Imperador do Congo (um país da África) para ser escravo na antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto/MG. O antigo Rei, chamado Galanga, perdeu sua mulher e seus filhos na viagem para o Brasil, pois as condições do navio eram muito ruins. Francisco, como começou a ser chamado no Brasil o imperador Galanga, trabalhou muito e conseguiu juntar um dinheirinho para comprar sua liberdade e a de alguns familiares. Após ser liberto, entrou em uma igreja para orar, porém sua felicidade era tamanha que apenas conseguiu dançar em frente a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Como ajudara a muitos a sair da escravidão ficou conhecido como Chico-Rei.

Após conseguir comprar a liberdade de todos os escravos que viviam em seu país na África, Chico-Rei comprou a mina de ouro Escandideira e casou-se novamente, dando a seu povo uma nova rainha, o que aumentou muito seu prestígio. Era tão respeitado que chegou a formar um bairro com seu povo em Vila Rica.

Com o dinheiro adquirido na venda do ouro de sua mina, o rei mandou construir em Vila Rica a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e organizou as irmandades de Nossa Senhora do Rosário e de Santa Efigênia. Nesta igreja os homens pretos podiam prestar seus cultos a Deus, já que eram proibidos de entrarem nas igrejas construídas por brancos ricos. Um detalhe interessante é que os altares desta igreja foram feitos pelo grande Aleijadinho.

Quando iam celebrar as festas de Nossa Senhora do Rosário em Outubro e dos Reis Magos em Janeiro, os negros iam sempre até a igreja momentos antes da missa batendo em tambores, pandeiros e outros instrumentos, festejando sua libertação, agradecendo a intercessão de Nossa Senhora do Rosário, de quem eram devotos. Chico-Rei e a sua nova esposa iam sempre atrás dos ex-escravos, que muito dançavam de alegria, pois era a forma que achavam para louvarem ao Senhor, vestidos com roupas muito bem decoradas, para agradecer a Senhora do Rosário tudo o que ela fazia por seu povo. As negras que trabalhavam nas minas levavam, dançando alegremente, pequenas pepitas de ouro escondidos em seus cabelos e deixavam na igreja, para que mais escravos fossem libertos.

A partir destes acontecimentos surgiram as tradições dos Congados, como ainda hoje há nas festas em honra a Nossa Senhora do Rosário. Muito mais que algo cultural, o Congado é uma forma das pessoas simples, algumas que mal sabem ler, manifestar sua imensa satisfação a Nossa Senhora do Rosário por todas as graças que Ela alcança de Deus.

Não temos, portanto, o direito de acabar com esta manifestação de fé do nosso povo. É claro que entre os Congados há muitos abusos. Alguns de seus membros muitas vezes entram bêbados nas igrejas, algumas das letras de suas músicas falam de deuses falsos, etc. Estes e outros erros existem e são gravíssimos. O que temos que fazer é tentar acabar com estas coisas erradas, sem querer acabar com esta demonstração de fé do povo simples, pois é importante lembrar que se não agradasse a Nossa Senhora, não estaria de pé a quase 300 anos.

E o mais importante que nunca devemos esquecer: Congado não é Bloco de Carnaval; é uma forma do povo simples e dos negros demonstrarem seu carinho e afeto a Virgem Maria.


João Carlos Resende, coordenador dos Marianinhos.

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